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Qual o papel dos museus na luta antirracismo?


Racism, unrest and the role of the museum field

AAM Virtual Conference - 3 de junho 2020


“Not everything that is faced can be changed. But nothing can be changed until it is faced,”

[Nem tudo que enfrentamos pode ser mudado. Mas nada pode ser mudado se não for enfrentado]

James Baldwin

A citação acima, do escritor e crítico social James Baldwin, foi mencionada e permeou as falas da sessão Racism, unrest and the role of the museum field [Racismo, revolta e o papel do campo dos museus], organizada na conferência da American Aliance of Museums em caráter extraordinário como reação aos protestos antirracistas que despontaram em inúmeras cidades norte-americanas em decorrência dos recentes assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor, David McAtee, e de tantas outras mortes de afro-americanos.

Assim como a violência, e a crise gerada pela pandemia afeta de maneira extremamente desproporcional a população negra. Como os museus podem assegurar um trabalho com foco na equidade e nas necessidades da comunidade negra? Como criar espaços de cura e construir relações autênticas respeitando as diferenças? Como usar a força do campo dos museus para combater o racismo?

A conversa abordou tais questões por vários ângulos. As falas, em primeiro lugar, trataram de reconhecer que a situação atual decorre de um padrão de longa duração, no qual a violência racial está arraigada, e que os próprios museus foram construídos sobre estruturas de poder e privilégio. Os museus têm poder de propor narrativas e deve utilizá-lo bem, na direção da equidade. E assim também atuar em sua gestão interna.

Os convidados compartilharam com a visão de que, embora seja importante publicar statements, declarações de repúdio neste momento, é preciso ir além das palavras e mostrar o compromisso com o combate ao racismo por meio de ações tangíveis. Não é suficiente ser “um bom museu”, cumprir com competência seu programa, é preciso contribuir para as comunidades se depararam com a realidade, imaginarem um futuro melhor e encontrarem esperança.

As reflexões e ponderações foram dirigidas ao contexto norte-americano, que, vale ressaltar, guarda muitas diferenças com relação ao Brasil no campo de museus como um todo e, sobretudo, no que se refere a museus especificamente voltados a comunidades culturais e minorias sociais. Lá, uma política de ações afirmativas engendrou a criação de museus como o National Museum of African American History and Culture, de Washington, e diversos museus de menor porte cujas missões se orientam diretamente para as suas comunidades (afro-americana, latina, asiática, islâmica, etc.). Porém, mesmo nesses casos os museus se vêm diante do desafio de ter que responder às necessidades das comunidades de uma forma que não se havia previsto.

No momento presente, os museus podem ajudar no encorajamento, em criar ambientes propícios para as pessoas partilharem emoções (todas elas, incluindo a raiva, o luto), se comoverem, criarem conexões. A pandemia que expõe de forma mais aguda o quanto precisamos sustentar e avançar no plano dos direitos humanos.

Na luta contra racismo, para que as transformações sejam efetivas, elas precisam atingir a esfera da política. Para os museus, conectarem-se com as pessoas, com a comunidade, se movimentarem efetivamente pelos direitos humanos não é um passo automático, imediato, mas uma transformação processual que requer escuta, construção de relações de reciprocidade, planejamento e persistência. Os três participantes reforçaram a importância de que cada museu construa um plano de ação, com objetivos explicitados, e assim possa manifestar o que pode fazer, adotar uma postura de comprometimento, podendo ser observado publicamente.


Integrantes

Johnnetta B. Cole (National Council of Negro Women. E Baltimore Museum of Art) Lonnie G. Bunch, (14th Secretary of the Smithsonian Institution) Lori Fogarty (Oakland Museum of California)

Imagem

Website do National Museum of African American History and Culture, que lançou no dia 31 de maio o portal “Talking About Race” https://nmaahc.si.edu/learn/talking-about-race (Getty Images)

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